Pelo Tempo que For


Carol Bortolo

Hoje faz um mês, sabia?
Provavelmente não.
Hoje faz um mês que seu sarcasmo crônico cruzou com o meu deboche natural em um aplicativo de encontros. Um mês que seu inglês fluente conversou com o meu inglês de sotaque brasileiro forte e constante. Um mês que sua vontade de conhecer o mundo piscou para a minha certeza de que o mundo é onde eu quero morar.
Todas as vezes que eu te vejo eu quero dizer que te quero perto, que você mexe comigo como ninguém mexeu, que meu corpo estremece quando encosta na sua pele, que você me chama para um abraço e eu já quero ser acolhida por toda uma vida.
Eu não sei quase nada de você, mas eu sei que você me faz bem, sei que seu sorriso é discreto, que você é capricorniano obstinado por conforto financeiro, que seu cabelo tem um cheiro que me tira o eixo, que sua cara de quem tá gostando me faz esquecer que na vida existem prazos, horários e compromissos.
E ai você me liga por horas e eu fico fingindo naturalidade.
E ai você some por dias e eu fico fingindo que nem liguei.
E ai você escolhe passar o fim de semana com qualquer pessoa que não seja eu e eu finjo que a liberdade é a chave para a confiança.
E ai você vai embora e não me dá nem um beijo de tchau.
E ai você volta e me deixa subindo pelas paredes.
E ai você vem e passa o dia deitado comigo no seu sofá.
E ai você me leva para comer minha comida favorita.
E ai você vem me buscar do outro lado da cidade.
E ai você vê todos os meus stories antes que todo mundo.
E ai você me manda presente em casa.
E ai você vai.
E ai você vem.
E ai você vai e vem.
Eu tento te entender, mas me faltam certezas. Eu tento não pensar em você, mas já é inútil porque você já é parte de mim. Eu tento controlar minhas declarações, mas eu acho que você percebe e chega a ser bobo o quanto eu evito te contar que você tem mudado tudo.
Eu queria transparência, sinceridade, olho no olho, intensidade. Mas já fiz isso das outras tantas vezes, já destrui tudo com meu jeito furacão de ser. Parece que você entendeu isso e, em sua leveza, tem me ajudado a viver contigo e regular a minha ansiedade.
Eu só queria você hoje, amanhã e depois, dividindo a cama, o café e as escolhas do streaming. Mas você não vai me permitir ser parte porque, pela primeira vez na vida, quem dita as regras do jogo não sou eu. Não ser a dominante me dá um medo infinito mas é só pensar no seu sorriso que o medo passa, que a saudade de você me abraça e que sua ligação me preenche mais uma vez.
Eu tô com a sirene ligada e com um medo danado de você e da gente. Mas hoje faz um mês que você chegou e, no que depender de mim, eu quero que você fique pelo tempo que for.

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Carol Bortolo

E-mail: acarolbortolo@gmail.com

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